quinta-feira, 30 de junho de 2011

Turning Point



“De manhã, uma vontade de chorar
Um querer que o passado volte
As lembranças vem misturadas, embrulhadas
E elas doem, machucam

As horas passam rápidas

À tarde, é como se o mundo tivesse deixado de girar
O tempo para
Não há mais recordações
Um hiato imaginário marca o momento da virada

É como despertar de um sonho ruim e descobrir que a realidade é muito mais bonita do que era antes
Porque o que ela era, já não é mais
As cinzas que restaram foram levadas pelo vento
Só importa o que ela é agora

É o novo aos poucos se mostrando
São novos prazeres se descobrindo
São novas pessoas se conhecendo
São novos projetos se realizando   

Quando chega a noite, a saudade, insistente, bate novamente
Mas dessa vez um filtro consciente entra em ação
E ele faz com que reste apenas uma vontade
A de que chegue logo uma nova manhã”


By Elena Corrêa


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ficar ou Partir




“Momento de dúvida no qual a única certeza é a de estar viva

Espera que atormenta mesmo que não haja demora nas definições

Pranto que com um beijo se transforma em um sorriso

Medo de abandono que se desfaz com um abraço

Fotografia devorada nas horas de saudade quando a ausência dói

Bebida tomada com sofreguidão para fugir da lucidez

Bichos que acolhem humanos abandonados em seus ninhos

Energia de uma música que toma conta do corpo em uma dança

Luz do sol que atravessa a vidraça anunciando um nascimento

Dúvida se vou conseguir chegar

E lá chegando, será que devo ficar?”


By Elena Corrêa


Suicidas Arrependidos



“Debruçada sobre o parapeito daquele viaduto uma superprodução imaginária se reproduz

Os reflexos dos faróis dos carros funcionam melhor do que os canhões de luz mais avançados de qualquer set de filmagem

Miro cada pedestre passando lá embaixo, perdido, perplexo, pasmo sob aquele concreto

São vultos que vão se engolindo e se mesclando numa dança louca e envolvente

São sombras que vão crescendo e depois sumindo com o avançar das horas

O que eles terão a me dizer, o que eu terei a dizer a eles?
O que são vozes soltas ao vento sem um eco de entendimento?

Lembro um pedido de atenção por trás de um gesto tímido
Lembro um grito de socorro disfarçado por um sorriso nervoso
Lembro um silêncio sofrido, doído, abafado
Lembro uma necessidade de amor, de carinho

Sem vivência suficiente para perceber
Não atendi aquele pedido de atenção quando ele mais precisava
Aquele grito de socorro, sofrido, doído, abafado
Aquela necessidade apenas de um ombro amigo

Hoje a vivência que acumulei não compensa as fraquezas que não pertencem apenas a mim
Terá sido tudo apenas a encenação de um set?
Os reflexos dos faróis serão, definitivamente, apenas canhões de luz?
Aquele corpo estendido no chão realmente não tem mais vida?
Não
Ele continua vivo em mim...”


By Elena Corrêa



terça-feira, 28 de junho de 2011

Liberdade




“Liberdade... 
Palavra algumas vezes gritada aos sete ventos
Em outras, apenas sussurrada, pelo medo do inatingível

Escrita em versos de sonhos
Cantada em prosas perdidas 

Ideal que muitos conquistam a qualquer preço
Mas só alguns podem desfrutar com orgulho

Prazer de viver com o que realmente faz falta
Buscado na chuva, no mar, na música, no sol, nas ruas

Razão pela qual um dia nos encontraremos presos a recordações
Mas mesmo dentro dessa prisão, ainda assim seremos livres

Porque nela não há grades nem amarras
Existe apenas uma leveza no ar

Uma indescritível vontade de voar
Uma agradável sensação de... Liberdade!”


By Elena Corrêa

 

domingo, 26 de junho de 2011

Raios Prontos


“Eu só queria um raio de sol no meio da noite
Ou qualquer coisa que me iluminasse e fizesse sentir mais calor
Força interiror eu encontro em tudo aquilo que faço e tudo aquilo que toco
Falta a certeza de que existem respostas externas a todos os porquês

Pode parecer piegas, ou seja lá a definição que queiram dar
Mas quem nunca desejou que todo sorriso fosse espontâneo
Que toda palavra fosse verdadeira, sincera?

Procura-se quem nunca reuniu forças para não deixar escapar uma esperança
Por ínfima que ela seja, há sempre um desejo oculto, obscuro, escondido
Uma vontade que pode até tornar-se mórbida, quase invencível

Mesmo que para os mais modestos seja apenas a esperança de que ainda vale à pena estar aqui
Ou a esperança de que, para os mais ousados, há muitos raios de sol prontos para brilharem
Apesar de toda chuva lá fora...”


By Elena Corrêa


sábado, 25 de junho de 2011

Revigorada


“A ferida volta a sangrar

Dessa vez, a dor é ainda mais insuportável

Porque foi despertada por uma esperança de cicatrização

E o que recebe é uma profunda punhalada

O compromisso não foi cumprido

Embora trouxesse na aparência a promessa de salvação

O que se apresentou foi uma cruel traição

O anúncio de cura era falso

Mas o engano era nada diante de um sofrimento maior

O de constatar que ele na verdade trazia a morte disfarçada

A inconformidade, no entanto, se sobrepõe à dor e traz a reação

A constatação da falsidade no anúncio não mata, revigora

O salvar-se deixa de ficar à mercê de promessas

Rompe-se o comprometimento com o que não se cumpre

O punhal já não fere nem superficialmente

A imunidade é recuperada

A ferida, finalmente, está cicatrizada

E a vida volta a ser desfrutada"


By Elena Corrêa

 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Apenas Baco Como Testemunha



“Nessa mesa para muitos, em que apenas um se senta, o vinho é sorvido com um estranho prazer
Um prazer que talvez se assemelhe ao sentido pelo prisioneiro quando vê chegado ao fim seu trabalho de escavar o túnel que garantirá sua fuga

Ledo engano
A embriaguez não o levará a lugar algum

Nada do que é pensado consegue dar sentido a coisa alguma
É como se tudo na verdade não tivesse nenhuma razão de ser
Esforçar-se para ouvir sons que não sejam esse zumbido infernal
Correr da perseguição dessa maldita multidão imaginária

As tentativas se esvaem
Apenas a mesa continua ali
As horas passaram, o tempo escorreu ralo abaixo
O cálice está vazio

A expectativa de ouvir a campainha tocar está sepultada
Jaz junto com a espera de o telefone tocar
Quando o cansaço físico mais uma vez vencer, o dormir será a única saída

E começará a batalha contra outra inimiga:
A insônia, que sempre insiste em alimentar essa dor emocional que atende pelo nome de Solidão” 


By Elena Corrêa


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Fumaça Sem Ar


“Ser louco, ser solto
Ser livre de regras

Deixar de correr
Voltar a viver

Sair dessa treva
Parar de fingir

Sorrir sem sorrir
Buscar sem achar

Nem mais me reconheço
Sou nada, sou vácuo

Sou raso, sou fundo
Fumaça sem ar”



By Elena Corrêa


Ideais Perdidos



“Insatisfação, indefinição...

Quando menos esperava, uma estranha sensação tomou conta do seu ser

E as mais imprevisíveis questões começaram a martelar em sua cabeça

Onde foram parar aqueles ideais que o levaram até onde ele está agora?

Terão sido esmagados numa corrida louca contra o tempo, contra o mundo, ou até contra ele mesmo?

Foram postos de lado para dar lugar ao medo, ao vazio, à solidão?

Dissolveram-se em lágrimas, derramadas por uma estranha necessidade de ter os olhos lavados?

Apodreceram pela falta de um sol que apenas ele não conseguia ver a luz, sentir o calor?

Ou foram sugados por toda essa mesquinhez que faz de cada dia que ele vive apenas mais um dia de perguntas sem respostas?”



By Elena Corrêa



Quisera...




“Um dia vi você passar
Mas não quero mais imagens

Ouvi sua voz
Mas não quero mais sons

Tive esperança de poder ter mais
Mas não quero mais esperar

Acreditei que seria diferente
Mas não quero mais acreditar

Pensei que seria diferente
Mas não quero mais pensar

Lutei para me controlar
Mas não quero mais lutar

Desejei ter você a meu lado
Mas não quero mais desejar

Amei tudo que fosse você
E quisera não mais amar” 




By Elena Corrêa

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lições


“A você
Que me ensinou a viver, e se transformou na minha vida

Que me ensinou a sorrir
E levou meu sorriso

Que me ensinou a não chorar
E hoje é razão do meu pranto


Que me ensinou a ter esperança
E me deixou a esperar

Que me ensinou a amar
E me negou o amor

E ainda assim eu digo:
A você...” 


By Elena Corrêa

Lugar Especial




“Ande, corra, salte, pule
Fale, grite, cante, declame
Planeje, execute, realize
Movimente-se
Espreguice-se
Dance se tiver vontade

Pare, sente-se, deite-se, ou fique de pé
Silencie, deixe que seus pensamentos falem por você
Sonhe, imagine, pinte telas mentais


Só não deixe de preservar um lugar especial em seu interior
Aquele no qual está contida a lembrança de tudo que há entre nós
De tantas que são, elas já não cabem apenas em mim” 




By Elena Corrêa

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Frases Repetitivas


“Há sempre aqueles que precisam se alimentar de frases de auto-ajuda
A maioria delas pouco original, pouco renovável, pouco atual

Pobres, batidas, copiadas à exaustão
Antigamente, tiradas de para-choques de caminhão
Hoje, copiadas de blogs com dicas do dia para seu nick

Os mais desprovidos de equilíbrio emocional mergulham numa catarse
Reverenciando esses mestres do plágio, essas sacerdotisas da imitação
E os adotam como ponto de referência

Não podemos desprezar antigos ensinamentos e velhos ditados
Mas nunca é demais um pouco de discernimento para usá-los
Para identificar quem está apenas tirando proveito de sua divulgação
E um mínimo de inteligência para a interpretação

Tudo está no sentido daquilo que você expressa
Está na essência do que você faz
E ela é frágil como cristal

Não basta querer
É preciso sentir o que realmente existe
E não se distingue apenas pela cor, sabor, textura

Não busque nada a qualquer preço
Será infrutífero forçar
Você só encontrará quando tiver encontrado a si mesmo

Tanto que a réplica é sempre a mesma
Explorada por uma minoria pouco original, pouco renovável, pouco atual..."




By Elena Corrêa

domingo, 19 de junho de 2011

Vampirismo




“Sua história era igual à de qualquer outra pessoa vencedora
Não importava onde já tivesse estado, onde estivesse agora, onde pretendesse ir
Ela teria seguidores - alguns disfarçados, outros desastrados - querendo pegar carona na sua trajetória

Nos períodos em que estava no auge, a legião de amigos - tão queridos - aumentava
Orgulhosos, eles lhe prestavam homenagens em público
Sempre, é claro, debaixo de holofotes que não lhes pertenciam

Na sua intimidade, ela sorria e os observava de longe
Não os estimulava nem os repelia
Sabia que nos tempos difíceis a peneira aconteceria naturalmente

Em certas ocasiões, até sentia pena daquelas pessoas tão carentes de vida própria
Percebia que algumas eram desprovidas de qualquer tipo de estrela
Por isso precisavam pegar carona na luz dos que nasceram para brilhar

Mas até sua paciência tinha limite, e aquela encenação começou a enojá-la
Foi quando ela percebeu quem realmente eram aquelas pessoas:
Vampiros dissimulados, ávidos por sugar a felicidade alheia”



By Elena Corrêa 

Massa de Modelar



“Uma página em branco

Será errado apresentar uma página em branco?

Uma página em preto

Será errado apresentar uma página em preto?

Estou falando de cores
Ausentes ou presentes

Falar de cores me remete à infância
Quando brincava de massas de modelar multicoloridas

Primeiro dia de aula
Uma aluna não tinha o material
Fui convencida a emprestar minhas massinhas
E ela fez um bacanal com aquilo que no momento era meu tesouro
De propósito, misturou tudo num bolo disforme e nojento

Imagens da infância nunca se apagam
Chorei muito... De tristeza, de raiva...
Sim, eu me permitia sentir raiva sem culpa
Afinal, quem me sacaneou foi ela
Eu sabia o quanto tinha custado a meus pais o preço do material escolar
Tinha medo que não acreditassem que não tinha sido eu a desastrada
Mas em nenhum momento eles duvidaram de mim

Hoje, quando falo de cores, ausentes ou presentes, lembro desse episódio
E só agora entendo a lição daquela mistura de cores
Aprendi a viver e conviver em mundos reluzentes e opacos
Aprendi a entender quem chega na minha vida para fazer miscelânias
E a distinguir quem realmente merece brilhar no meu arco-íris”


By Elena Corrêa

sábado, 18 de junho de 2011

A Caminho



“Vem, não importa como e nem mesmo por que
Vem em forma de tempestade ou de calmaria

Traga tudo o que tiver, não importa o quanto valha
Traga o gosto amargo de lágrimas ou o doce sabor de um sorriso


Diga alguma coisa, não importa em que tom nem com quais palavras
Diga o que já havia sido pensado, ou simplesmente o impensado

Faça tudo aquilo que sempre teve vontade, mas estava reprimido
Faça do tempo um brinquedo e do espaço um momento

Vem, não importa como
Sem trazer nada
Sem dizer nada
Sem fazer nada

Apenas vem...”


By Elena Corrêa

Metáforas do Sol


"Ouço risos zombeteiros quando digo que o sol hoje não se mostrou

Não entendo a ironia...

Quando reclamo sua ausência não estou negando sua existência

Talvez ele ainda se mostre um dia

Se não foi hoje, pode ser amanhã, ou depois...

A única coisa que tenho a dizer é que toda e qualquer prova de que ele existe não me convence

Não me basta sua luz, seu calor

Quero mais

E essa necessidade se confunde com outros desejos
A tal ponto que já não sei se este sol que me faz falta é o mesmo astro no qual todos apostam
Ou seja lá o que for...

Não deixarei de aguardá-lo
Nem deixarei de acreditar que ele é real
Mesmo que apenas essa crença também não me satisfaça

Continuarei seguindo em frente enquanto espero
Ignorando os incrédulos de milagres
Apostando sempre que alguma coisa deve existir além de tudo que tenho visto, tocado, sentido...

Hoje o sol talvez tenha se mostrado para alguns
Mas não para todos
E quem ainda está à sua espera, sabe do que estou falando..."


By Elena Corrêa

Ilustração: Van Gogh 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Alegria Do Nada Em Tudo


"Explode uma alegria vinda do nada

Tudo é cor, som, riso

Não é preciso entender nem ser solidário ao que seja triste, sério, estático

Necessário é sentir o corpo em cada movimento

Ouvir a própria voz se sobrepondo a qualquer ruído

Porque nesse exato instante não há nem antes nem depois

Há a sensação de que um longo tempo se passou para que esse agora acontecesse

E um tempo maior ainda para que esse momento chegue ao seu ápice, ao seu fim

O riso, o som e as cores ainda insistem em se manterem vivos no nada

Enquanto aquela alegria ficou perdida

Ou se encontrou no tudo”



By Elena Corrêa


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ilusões Perdidas



"Da janela, você pensa se deve jogar seus sonhos ao vento, tal qual pássaros sendo libertados de gaiolas

Ou deve mantê-los aprisionados, protegidos, enquanto observa a vida passar lá fora

As oportunidades se fazem urgentes, e elas existem

Mas você fecha portas e janelas, sonhando com algo que já nem sabe mais o que é

Insiste em desperdiçar o presente imaginando como será o futuro

Quando abrir os olhos, talvez não saiba mais o que fazer

Correrá em busca de ilusões perdidas

Se enganará achando que pode mudar o passado

Tentará resgatar algo que na verdade nunca lhe pertenceu

Mas se você acreditar no seu potencial, a força maior estará a seu alcance

Basta ter coragem de abrir todas as portas e janelas

Porque os sonhos continuarão sempre em suas mãos

Mesmo que em algum momento eles se tornem um pesadelo

E você nem se dê conta disso”



By Elena Corrêa

Fugas Disfarçadas



“De que adiantará um corpo a seu lado se, por acaso, trata-se apenas de uma vida que não responde aos porquês de sua existência?
Há muitos lugares nos quais a solidão se encontra com muito mais força do que num quarto vazio

No inverno, será possível alguém sentir mais frio do que aquele que tem o corpo despido?
Há quem ache que não
Há quem saiba que sim

No meio da noite, suas emoções são reprimidas, seus desejos são contidos
Ao passar das horas, percebe-se que o vazio maior é aquele em que os espaços vão sendo ocupados sem, no entanto, serem preenchidos
A noite é tragada sem deixar nenhuma essência

Ao amanhecer, sente-se apenas o peso nos olhos de um sono mal dormido
O desfazer de sonhos não acontecidos
E a rotina vem chegando mansamente
Para te massacrar e engolir por mais um dia”




By Elena Corrêa

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Impulsos



"Quem, em algum momento de sua vida, não ficou sem conseguir dominar a impulsividade?
Não fez coisas sem pensar, e quando pensou, teve dúvidas se deveria fazer
Quem nunca trasformou em palavras e frases, pensamentos que lhe vieram à mente na hora
E no momento seguinte já não era mais aquilo que queria ter dito?

Testemunhas ficavam em dúvida de ter ou não entendido
E questionavam em que acreditar, o que seria verdade, o que seria mentira

Quem nunca procurou coerência em tudo à sua volta
E acabou se encontrando no inexplicável?

Difícil é esbarrar com pessoas que alcancem suas razões mais ocultas
Aceitem suas ações e reações, reconheçam suas buscas e fugas
Compartilhem suas obras e destruições

Ou apenas um alguém que não fuja de tantas contradições"



By Elena Corrêa

terça-feira, 14 de junho de 2011

Reflexos


"Ao ver-se diante dele, é como se ela não estivesse só

Ela vê diante de si a presença de uma existência

Olha dentro dos olhos da outra em busca de um brilho novo


Sorri, e o retorno é imediato

Pensa em dizer algo
Mas acha melhor se calar

Teme que a resposta seja um eco de sua própria voz
As consequências a amedrontam

Dá um passo atrás e para
A antiga, cruel e surrada sensação de abandono se aproxima

A penumbra vai tomando conta do ambiente
Um frio percorre sua espinha

Ela tenta lutar contra aquela coisa horrível à qual dão o nome solidão
Não quer sentir-se só e luta contra isso

Só desiste quando constata que a verdade é uma só
Sem poder mais encarar nem a si mesma diante do espelho, não adianta fugir

Ela está sozinha..."



By Elena Corrêa

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ânsia de Reconstrução


"Sem planejar, eis que chega a hora de fazer da imaginação algo concreto

Soltar o corpo do alto e não ver na queda o destroçar de pedaços

O que vale é ficar atento ao despertar para o que de novo começa a se formar

Porque o infinito é questionável, as dúvidas, limitadas

E as certezas perdem-se na falta de perspectivas

A rotina atrofia, enferruja, mata

Resta apenas a ânsia de fugir do lugar comum

De buscar seja lá o que for, mesmo sabendo que a efemeridade do instante tudo pode dissolver

Não há como sufocar o desejo de mudar, de se reconstruir

Mesmo que para isso se faça necessário tudo explodir

E reunir os destroços, sem a certeza do inteiro

Pois no fundo sabe-se que nada voltará a ser tal qual foi um dia

Mas essa tentativa desesperada será sempre válida

Mesmo que seja apenas para sentir o gozo de se estar tentando dar vida novamente a um escombro"



By Elena Corrêa

domingo, 12 de junho de 2011

Questão de Equilíbrio


"Amarei a todos com o mesmo ardor com que sou amada

Desprezarei a todos com o mesmo desrespeito que me dispensam

Ignorarei a todos com o mesmo desdém que me reservam

Buscarei a todos com a mesma força com que me requisitam

Sentirei falta de todos com a mesma carência que demonstram na minha ausência

Chorarei por todos com tantas lágrimas quantas eu sei que derramarão por mim

E saberei sorrir com cada um que dividir comigo suas alegrias

Apenas sorrir, pois não sou de gargalhar

Sons muito alto me incomodam...

Prefiro tons que falam com delicadeza ao meu coração

Porque ele não grita, nem precisa de muitos decibeis para sentir o que é sincero

A falsa alegria faz estardalhaço

A verdadeira felicidade é discreta, elegante

E nos momentos tristes não me afastarei

Sofrerei junto com suas dores, mas em silêncio, sempre em silêncio

Como disse antes, sons muito alto me incomodam..."



By Elena Corrêa

Mãos Dadas



"E quando foi vencida a distância que tornava insaciável a sede de corpos unidos
Veio a certeza de que a troca virtual é pouca, é mínima, diante do desejo de estar junto

Como por encanto, tudo muda a partir do instante em que começamos a trilhar a mesma estrada, lado a lado
As horas ficaram presas ao relógio, o tempo está livre em nossas mãos
O espaço, por mais reduzido que seja, perde seus limites para tornar-se um universo

Obstáculos e intempéries foram vencidos
Pensamentos e sentimentos estão em sintonia
E, como presentes trocados, a vida vai sendo compartilhada

Deixamos de ser dois, divididos pela razão
Passamos a ser um só, unidos pela emoção"



By Elena Corrêa

sábado, 11 de junho de 2011

Às Vezes...



"Às vezes quero ter a paciência dos sábios e esperar que um dia de ausência passe e surja aquele em que acontecerá um novo encontro

Às vezes quero ter a sabedoria dos deuses e adivinhar todos os conselhos deles, para não sofrer quando seu olhar ficar perdido


Às vezes quero ter a certeza de que nada será mais forte do que esses momentos que vivemos

Às vezes tento sufocar esse receio de que a qualquer momento a mágica vai se desfazer, o sonho vai se esvanecer, e tudo vai virar uma imensa fumaça cinza, densa, sufocante

Às vezes acho que é justamente esse receio que me faz desejar viver mais e mais, muito mais disso tudo

Seja nas coisas que faço ou não faço. Seja nas frases que digo ou não digo
Sei que não há mais chance para o 'às vezes'


Estaremos juntos sempre, no tudo e no nada..."



By Elena Corrêa

Desejo de Voar


"E é quando te sinto um pássaro voando alto e distante
que bate forte o desejo de que o vento sopre contra e te traga de volta

E é quando me sinto uma ilha, onde o horizonte parece não ter fim
que torço para que alguma força estranha me desloque para algum arquipélago

E é quando nada consegue me motivar, por mais que eu tente o contrário
que tenho a sensação de que foi o tudo que me sugou

E é no momento de luta na ânsia de descartar sensações inúteis
que descarto o comodismo de viver apenas de desejos

E me entrego à aventura de voar alto, e para bem longe, a seu lado"



By Elena Corrêa

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Rumo ao Infinito


"Na rua, gritos vêm de todos os lados
São germes, são vermes, são projetos de gente
Ruídos, barulhos, vozes de pavor ecoam
Um ser indiferente vê o mundo em depressão
E pessoas em processo de explosão

Nasce a agitação
E, nesse parto, morre a alienação
O ar está contaminado
A terra sendo drogada
O telefone não tem mais linha
A campainha deu o alarme

Perdeu-se a consciência
À espera do vôo para o infinito"


By Elena Corrêa

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pra Que Tanta Interrogação?


"Pra que buscar definição?
"Pra que se aconchegar na solidão?
"Pra que decorar a canção?

"Pra que bitolar a imaginação?

"Pra que sofrer do coração?
"Pra que fugir da prisão?

"Pra que negar a condição?
"Pra que sonhar com a realização?

"Pra que esperar a solução?
"Pra que se enganar com a ilusão?
"Pra que guardar a recordação?
"Pra que acolher a separação?

"Pra que trabalhar na construção?
"Pra que enjoar na gestação?
"Pra que evitar a explosão?
"Pra que sentir a paixão?

"Pra que assumir a indefinição?
Pra que querer explicação?"


By Elena Corrêa

Roteiros


"E a moviola vai rolando

O filme sendo projetado
As imagens, que no início eram embaçadas, vão tomando forma
As palavras deturpadas começam a ser entendidas

Alguns ainda não conseguem captar a história
Outros, pensam conhecer a fundo os detalhes de cada cena
Há os que fingem saber de tudo...
O que vale é identificar quem tem real consciência do enredo

Porque é preciso se manter em alerta para se defender dos críticos de crítica nenhuma
Daqueles que aplaudem os que compartilham de suas desgraças
E tentam ironizar aqueles que sobrevivem ao menosprezo inútil

E a máqina vai funcionando, o filme vai acabando
Se o desfecho foi, é ou será feliz, não importa
O que vale é entender o roteiro"


By Elena Corrêa

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fragmentos


"Vi em seus olhos o mundo que já não existia mais em lugar nenhum

Ouvi de seus lábios canções jamais interpretadas por cancioneiros perdidos em noites quentes de amor

Senti a seu lado o aconchego de braços que protegem quando tudo parece ameaçar

Quero gritar que a luz tem que voltar

Que meus olhos não aguentam mais tanta escuridão

Imploro por novas vozes

Porque o único som que tenho ouvido são meus próprios lamentos gritando dentro de mim

Porque o vazio que me rodeia começou a ocupar meu próprio espaço

E eu já não sei onde ir...

Jogo tudo para o alto e deixo que o vácuo se encarregue de devolver os destroços

Que importa o inteiro?

Por que temer que se quebre, que se estraçalhe

Se em cada fragmento haverá sempre a consciência daquilo que se foi um dia?"



By Elena Corrêa

domingo, 5 de junho de 2011

Delírios



"Caiu tudo no espaço
Voou tudo para o chão
Mergulhe na areia e faça castelos de mar
Tire ideias do bolso e guarde bilhetes na mente
Durma no nascente e desperte no poente

Dedilhe em uma corda de seis violões
Toque um piano de teclas douradas
Liberte-se das correntes das horas
Fuja da cela de mais um dia

Sinta o prazer de voar sem asas
Aguarde o momento em que pisarão no sol
Não fuja de lambidas de cobras

Seja insano nas suas coerências

Seja equilibrado na sua loucura

E, sem medo, desprenda-se das garras do tédio"



By Elena Corrêa

sábado, 4 de junho de 2011

Máscaras Inúteis


"Com um sorriso estampado no rosto, ele encarou as pessoas que o rodeavam

Foi preciso se armar de coragem para provar que era forte perante todos

Tentou mostrar frieza no olhar e pronunciar as palavras mais amargas que sabia

Deixou seus sentimentos, sonhos e esperanças de lado

Se fazia necessário ser mais realista que a própria realidade
Colocou o tempo à sua disposição, como se fosse o dono das horas

Julgou-se vencedor, nada o abalaria
Tentou escrever aquele que seria seu melhor texto
Não conseguiu

Mas, por que não conseguiu?
Ele não estava certo de seu sucesso
Não confiava na sua insensibilidade diante das coisas fúteis e passageiras?

O que faltava, então?

Talvez faltasse apenas uma coisa: deixar de fingir!"


By Elena Corrêa

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Não Olhe Para Trás


"Segue seu caminho, constrói o mundo que você sonhou
Expande seus pensamentos por onde passar
Deixe que o vento eleve suas ideias ao céu
E a chuva as derrame sobre a terra

A noite já se recolheu e o sol se levanta num bocejo manhoso
Enfeite a vida com seu sorriso, desafie o tempo com seu olhar
Continue a subir, não olhe o degrau que ficou atrás
Não dê ouvidos a palavras deturpadas que ficaram no ar


Alcance a felicidade que só a você pertence
Não olhe para o lado de cá
Aqui o sorriso tem gosto de sal, o olhar se perdeu em busca de nada
E as vozes silenciaram para que o coração se aquietasse

Mas não ligue
Nem olhe para trás
Você tem o mundo à sua frente
E eu tenho você em mim"



By Elena Corrêa

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Não Há Retorno



"Quando criança, no campo, ela saía sozinha à noite para admirar o céu
Longe das luzes da cidade, ele parecia coberto por um manto de estrelas
E quando era lua cheia, ah, o êxtase era maior
A imaginação se soltava, descobrindo vultos naquela imensa esfera amarela

O frescor da noite e a brisa suave acariciavam seu rosto
E naquele universo mágico ela sonhava...
Sonhava como deveriam ser outros universos
Fazia planos de um dia partir

Parecia que demoraria tanto, faltavam tantos anos...
De repente, como num piscar de olhos, o cenário mudou
As árvores deram lugar ao concreto, as estrelas foram ofuscadas por luminosos
O ar noturno não acaricia mais com a mesma suavidade

A menina cresceu, ganhou o mundo
E tudo que parecia tão grande, ficou pequeno
Sente saudades da imensidão que a rodeava na infância
Chega quase a ouvir as risadas, a sentir os aromas...

Tem vontade de revisitar lugares de outrora
Resgatar antigas sensações
Mas tem medo de arriscar, pois sabe que seu olhar mudou
Tem medo de não conseguir mais reencontrar suas figuras secretas na lua cheia"



By Elena Corrêa