Do alto do palanque que existia na época, ficava curiosa com
o desejo explosivo que se manifestava em alguns de subir até lá, mesmo que
fosse para exercer uma função praticamente de um subalterno, e se sentir na
posição privilegiada de ser “o escolhido”, ou “a escolhida”
Ao mesmo tempo, verificava que muitos ansiavam por tal
momento, mas faltava-lhes ousadia, coragem de se manifestar, talvez até
houvesse um tremor de pernas que os travavam e não os deixavam seguir adiante
Estar à frente, mesmo que apenas um degrau acima, já era
atingir um status, pela simples sensação de ser “o eleito”
Era também ser por um momento em suas vidas o centro das
atenções
Uma espécie de se estar assinando o termo de compromisso de
sucessor daquele que sempre estava à frente
Um sonhar inconsciente com grandes postos ou grandes cargos
de importância
Em alguns casos, um sonhar com fama, sucesso e tudo que
advém do mundo dos municipal, estadual, federal ou mundialmente conhecidos
A escola era pública e a sala de aula não era grande,
comportava uns vinte alunos de idades variadas
Alguns eram novatos na quarta série, outros, repetentes há
uns quatro anos
A maioria de classes sociais pouco favorecidas
E a história pessoal de cada um era um drama à parte que me fazia voltar para casa a cada dia carregando uma bagagem ainda mais pesada e rica de fatos para analisar, absorver e abstrair para minha própria existência
Mas aquele momento em que disputavam o privilégio de ir até
o quadro-negro, que na verdade passou a ser verde, ou lousa, como é conhecido
de forma mais arcaica, para apagar os rabiscos feitos em giz pela mestre, ah,
esse momento era único
Era ali que eu via que o sonho de cada um era maior do que
sua própria realidade, e que alguns tinham muito mais garra, coragem, garra e determinação
de se expor e buscar seus objetivos
Talvez os que hoje despontam como vencedores tenham apagado
muitos quadros na infância
Enquanto os que vacilaram, deixaram-se vencer pelo tremor
das pernas ou tenham achado a função pequena demais para eles, estejam até hoje
tentando escrever sua própria história em algum lugar. Ou tentando apagar...
By Elena Corrêa