sábado, 31 de março de 2012

Autonomia Para Morrer



“A morte nunca foi um desejo, uma meta a atingir
Nem precisava, sempre foi autônoma
Sempre foi uma presença constante e indesejável
Estava e está sempre ali, fingindo não estar
Às vezes rindo, debochando, escrachando
Em outras, fingindo-se de conciliadora, sorrateira

Ela assusta pelo simples nome que leva
E isso a torna mais forte, mais temerosa
Por isso, vence a maioria das vezes
Deve ser bem triste para ela ver alguém adiar seu domínio
Mas isso é possível e acontece, sim

Vencê-la não é questão de milagre
É questão de fé, força de vontade
É garra para tirar dela essa autonomia
E, acima de tudo, é amor à vida”


By Elena Corrêa

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Vômitos



"Sua vontade às vezes era botar para fora o que a sufocava
Vomitar verdades ocultas suas, disfarçadas de outras
Acabar de vez com essa tendência que sempre a perseguiu de clamar pela Justiça Divina
De esperar que, de repente, do nada, alguma luz vá se acender
E aquelas forças do mal saiam da sombra do bem
E se revelem, e se autodenunciem, e se auto entreguem
Por conta própria, por conta do acaso, ou por armadilhas perfeitamente planejadas

Provas concretas existem
Guardadas, protegidas
Com o aval de quem sabe do seu valor
Mas, por enquanto, vão continuar ocultas
Elas só reforçam o prazer de assistir de camarote à altivez dos incautos
Ver como se comportam como soberanos, superiores, imbatíveis
Quando não passam de bichos doidos, possuídos, sempre se sentindo ameaçados

Ah, mas é quando cai a ficha do quanto são infelizes
Por mais que façam questão de gargalhar e inconscientemente se difamar
A ânsia de regurgitar passa e a sensação que vem é de alívio
Para que dar pérolas a porcos?
Melhor deixar que se afoguem em seu próprio vômito"


By Elena Corrêa  

quarta-feira, 14 de março de 2012

A Missão de Vencer Fases


"Não existe uma data registrada de quando a lembrança concreta de tudo começou
Mas aos poucos foi se formando a consciência de que desde o início a principal missão seria vencer fases
A primeira deve ter sido a mais fácil
Lá no útero, num lugar quentinho e seguro
Fomos tomando forma, com muitos especialistas dando dicas
E só nós sabendo o que realmente acontecia lá dentro
Até chegar o momento de dar o primeiro grito de liberdade
E vir a descoberta do ar
E da necessidade de se respirar
A partir daí, os desafios começam a se suceder sem aquela proteção íntima e cavernística de outrora
Vem a fase de aprender a falar, a de aprender a andar, a de fazer as necessidades fisiológicas sem auxílio de nada nem ninguém
Aprendemos a nos livrar daquelas fraldas sujas e pesadas
Assim como um dia nos livramos daquela obrigação de termos respostas prontas e definimos o que queremos que faça parte do nosso dialeto
Aprendemos a seguir o caminho que escolhemos, e não aquele que insistem em nos indicar
E a fases vão se sucedendo
Aprender a ler, escrever, somar, dividir, conjugar verbos
Passamos por todas as fases de ensino até chegar a hora de avançarmos
Não dá mais para ser apenas estudante
Precisamos também trabalhar
É hora de arcar com os custos da própria história
É preciso coragem e ousadia para alçar voos mais altos
É hora de exercer a profissão em todas as frentes
Não há porque se submeter, ter medo
Há que se ter vontade de aprender cada vez mais e nunca se subjugar
Suspeite de um curriculum feito de um único emprego
Concluída mais uma misão, mais uma fase surge pela frente
E assim vai acontecendo sucessivamente
Até chegar o momento em que, para alguns, é a hora de descansar
De calçar os chinelos da aposentadoria
Para outros, é hora de buscar novos desafios
Colocar na bagagem toda a experiência adquirida e ousar
Ir em busca de novos horizontes
De permitir-se viver novas fases
E, de preferência, vencê-las
Como aconteceu com todas as anteriores"



By Elena Corrêa

sexta-feira, 9 de março de 2012

Resquícios Do Que Viveu


“Ela olhava à sua volta e nunca desistia de continuar buscando
Buscava não perder de vista aqueles exemplos de sabedoria, comportamento, lealdade
Mas eis que a decepção vinha à galope, sem aviso prévio
Aqueles que pareciam tão justos, tão sinceros, tão cheios de histórias
De repente, passavam a se mostrar tão falsos, traiçoeiros, desleais

E ela, sem perceber, passou a transferir para o seu dia a dia um amargor pessoal
Pessoas que nada tinham a ver com aquela deslealdade passaram a ser seu alvo
Passou a ser cruel, sarcástica, debochada e incoerente
Perdeu-se no que poderia ser um sinal de inteligência
Transformou-se num escracho dela própria

E é assim que acaba caindo na própria armadilha
Ao tentar vingar-se sorrateiramente e de uma forma sútil
Ela escorrega e derrapa na própria ironia
Não tem coragem de responder por ela mesma
Precisa pedir socorro até a quem sabe menos do que ela

Perdeu-se no meio do caminho
Virou pouco mais que nada
Resquícios do que viveu”



By Elena Corrêa

quinta-feira, 8 de março de 2012

No Teatro da Vida


“Há os que nasceram com coragem para subir no palco

Há os que nasceram para ficar na coxia, dando respaldo

Há os que nasceram para ser apenas mais um a sentar na plateia

Há os que nasceram para ficar na bilheteria

Há os que nasceram para ficar na calçada vendendo pipoca

Há os que nasceram para ficar observando de longe o letreiro luminoso

Há os que nasceram para aplaudir

Há os que nasceram apenas para vaiar

Há os que nasceram para serem ovacionados

Há os que nasceram para serem criticados

E há os que se esqueceram de nascer

E não fazem falta no teatro da vida”




By Elena Corrêa

domingo, 4 de março de 2012

Presos Por Algemas Psicológicas


“A porta da cela se fechou
Mas o tempo foi a meu favor
Corri, fugi e saí pela janela

E, do lado de fora
Ficava questionando
O que continuaria acontecendo dentro daquele cárcere

Pobres seres
Presos por algemas psicológicas
Subjugados, humilhados

Aquela aniquilação humana ainda doía em mim
Torcia para que outros percebessem que era opcional
Que dependia de cada um ter coragem de romper as amarras

E eis que surge uma boa nova
Outros optaram pela libertação
Pela preservação da própria dignidade

E ao encontrar um desses, o que resta?
Resta abraçar e dar as boas-vindas
Pois muitos são os falsos vencedores
Poucos os verdadeiros vitoriosos

Sejam bem-vindos os que não se subjugaram”



By Elena Corrêa